quinta-feira, março 11, 2010

Discussão se ganha?

Você discute com alguém durante horas. Expõe seu ponto de vista com intensidade. Ouve a outra parte por necessidade. Aí, ele finalmente concorda. Vitória. Será que foi você quem ganhou? Não. Você ficou igual, com as mesmas idéias e sem nada de novo. Seu "opositor", sim, ganhou. Acrescentou novas formas de pensar e compreender antigas questões.

A edição de 23/12 da revista Veja apresentou uma entrevista com Bjorn Lomborg. Segundo a revista, é "o principal representante dos céticos em relação aos efeitos catastróficos do aquecimento global". Eles, os céticos, são poucos. A imensa maioria dos pesquisadores concorda com a ideia de que há efeitos da atividade humana sobre o clima e que devem ser tomadas medidas urgentes para evitar problemas como crises de produção de alimentos, redução da disponibilidade de água potável e aumento do nível dos oceanos. Céticos, ao contrário, costumam dizer que há grande exagero e questionam, inclusive, a seriedade das pesquisas sobre mudanças climáticas.

Apesar dos argumentos infantis (que confundem os leigos ao apresentar afirmações corretas) de que "meteorologistas mal prevêm o tempo para amanhã, como saberão a temperatura da Terra daqui a décadas ou séculos?" ou "há cientistas que forjam pesquisas catastrofistas apenas para receber recursos", os céticos, também são parte importante deste debate. São a necessária oposição ao que parece unânime. São a minha (nossa) chance de, verdadeiramente, "ganhar" algo nesta discussão.

Pois eu acredito, com base em tudo que leio, vejo, estudo e comparo, que há "algo sério no ar" e que precisamos nos preparar para lidar com novas realidades. E isto significa, também, sermos criteriosos e "aprender com quem não acredita como nós".



Por exemplo, Lomborg lembra que há grande movimentação (recursos financeiros) devido ao fato de que Tuvalu, um país insular com 12.000 habitantes, poderia desaparecer devido ao novo nível dos oceanos pós-aquecimento. Ele afirma, com justiça, que estamos falando de 12.000 pessoas que teriam que se mudar, com segurança, para outra localidade. É triste, mas ninguém morreria. Lembra que a cada sete horas e meia este mesmo número de pessoas morre em decorrência de doenças infecto-contagiosas facilmente curáveis e, claro, evitáveis (!). 15 milhões por ano. Há recursos para Tuvalu, mas há muito pouca atenção aos 12.000 que morreram nas últimas sete horas e meia. Sim, hipocrisia.

Mas, por outro lado, ele pisa em solo frágil ao falar de consumo. Ele parte do princípio que "querer ter ou gastar cada vez mais" é da natureza humana. Diz isso para concluir que a solução é desenvolver tecnologia para que aquela natureza seja suprida, independente do impacto ou das emissões de carbono. Ora, parece claro que o que ele considera "natureza" do ser humano é consequência de uma característica adquirida, uma necessidade imposta, uma "inclusão social" forçada, que leva nossa espécie, na versão industrializada, a querer possuir o que, absolutamente, não precisa.



A tecnologia de que precisamos é a que repensa os ciclos de produção e, especialmente, de energia. Em paralelo, a humanidade terá que enfrentar, forçosamente, a reflexão sobre seus hábitos. Seja o selvagem que derruba matas para obter lenha, seja o executivo que troca de celular a cada 2 meses. Sim, tecnologia e educação. Exatas e humanas. Novos valores e nova base tecnológica.



E, ao mesmo tempo, Lomborg acaba concordando com o efeito devastador do crescimento populacional e afirma que "para os pobres, crianças são fonte de renda. Para os ricos, representam despesa". Sugere, com razão, que para interferir preventivamente no tamanho das famílias, devemos torná-las mais ricas. Ou seja: menos ignorantes, mais educadas, mais conscientes. Ponto para a educação!

Perdi parte da discussão, pois continuo pensando como antes em muitas questões. Ganhei, no entanto, ao visualizar com maior clareza a hipocrisia existente nas políticas de combate ao aquecimento global.