quinta-feira, janeiro 27, 2011

Fernando de Noronha: empresa gerenciará os serviços de uso público

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) concluiu o processo de licitação para a exploração de serviços de uso público no Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, em Pernambuco. De acordo com o edital, a empresa Cataratas do Iguaçu, vencedora da licitação, terá que investir R$ 7,5 milhões no parque nos dois primeiros anos.



As obras incluem construção de mirantes e trilhas suspensas, novas escadarias, recuperação de estradas de acesso e a instalação de uma exposição permanente avaliada em R$ 700 mil no Centro de Visitantes. A empresa ajudará ainda a controlar a linhaça, uma das principais espécies invasoras de Noronha.

A Cataratas do Iguaçu fará ainda o controle da cobrança de ingresso. Com isso, serão gerados 30 empregos diretos, o que, para a ilha, que tem uma população fixa em torno de mil pessoas, é algo importante.

INGRESSOS – Os ingressos passarão a ser cobrados a partir do final de fevereiro de 2011. O valor será de R$ 60 para brasileiros e R$ 120 para estrangeiros. Ao pagar a taxa, o visitante poderá permanecer no parque durante 10 dias. Ou seja, o valor diário fica em apenas R$ 6, no caso dos brasileiros.

Ainda conforme o edital, 15% da arrecadação serão repassados ao ICMBio, por meio do orçamento geral da União. O dinheiro será reinvestido na unidade de conservação. A empresa adotará as mesmas regras de isenção seguidas pela Administração do Distrito Estadual de Fernando de Noronha, vinculado ao Governo de Pernambuco, na cobrança da taxa de preservação.

Esse é o quarto parque nacional do País a ter o serviços de uso público terceirizados. Os outros são Foz do Iguaçu, no Paraná, e Tijuca e Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro.

TAXA ATUAL – Atualmente, o visitante paga R$ 38,24 para cada dia de permanência em Noronha. O valor aumenta exponencialmente a partir do quinto dia. Não pagam a taxa moradores, funcionários a serviço e parentes de primeiro grau dos residentes na ilha.
O Governo do Estado calcula em R$ 10 milhões a arrecadação anual e diz que a verba é destinada à limpeza urbana, transporte de suprimentos de navio, hospedagem, alimentação e transporte aéreo dos funcionários em trânsito na ilha.

O total de visitantes no ano passado, segundo dados da Administração de Fernando de Noronha, foi de 60.673 pessoas. O número não inclui os passageiros dos transatlânticos em cruzeiro à ilha. Esses navios, que aportam em Noronha em escalas semanais, permanecendo por um dia e meio, transportam em média 600 passageiros.

O PARQUE – Criado em 1988, o parque tem 112 quilômetros quadrados, dos quais 17 quilômetros quadrados estão em terra firme e o restante no mar. A ilha principal tem mil moradores, a maioria trabalhando no serviço público e com turismo. O trecho que não está no Parque Nacional Marinho (Parnamar) faz parte da Área de Proteção Ambiental (APA), outra unidade de conservação federal.

Fonte: ICMBio

domingo, janeiro 23, 2011

Entrevista de Jared Diamond ao jornal O Estado de São Paulo

O livro "Colapso" foi uma das leituras mais densas e completas dos últimos anos. Envolve a visão do meio ambiente, das civilizações, dos processos de urbanização, dos relacionamentos entre pessoas e seus grupos -ou tribos...

Hoje, o jornal O Estado de São Paulo publica, em seu caderno "Aliás", uma longa, interessante e indispensável entrevista com este cientista. Transcrevo aqui, pois deve ser lida, relida e, como fiz, retransmitida...




Rubbish! É a resposta - em bom inglês - do biogeógrafo americano Jared Diamond para a pergunta sacada com frequência pelos "céticos do clima" no afã de congelar o debate ambiental: o aumento da temperatura do planeta, ao qual se atribui a intensificação dos ciclos de calor e frio testemunhada hoje por toda a parte, pode ser o resultado de um ciclo natural da Terra? Rubbish - lixo, besteira. "A ideia de que as mudanças climáticas que estamos presenciando hoje são naturais é tão ridícula quanto a que nega a evolução das espécies", fustiga o autor de Colapso (Record, 2005), um tratado multidisciplinar de 685 páginas na edição brasileira que analisa as razões pelas quais grandes civilizações do passado entraram em crise e virtualmente desapareceram. E a questão assustadora que emerge de seu olhar sobre as ruínas maias, as estátuas desoladoras da Ilha de Páscoa ou os templos abandonados de Angkor Wat, no Camboja, é: será que o mesmo pode acontecer conosco?

A resposta de Diamond, infelizmente, é sim. Ganhador do Prêmio Pulitzer por sua obra anterior, Armas, Germes e Aço (Record, 1997), em que focaliza as guerras, epidemias e conflitos que dizimaram sociedades nativas das Américas, Austrália e África, o cientista americano há anos nos adverte sobre os cinco pontos que determinaram a extinção de civilizações inteiras. O primeiro, é a destruição de recursos naturais. O segundo, mudanças bruscas no clima. O terceiro, a relação com civilizações vizinhas amigas. O quarto, contatos com civilizações vizinhas hostis. E, o quinto, fatores políticos, econômicos e culturais que impedem as sociedades de resolver seus problemas ambientais. Salta aos olhos em sua obra, portanto, a centralidade que tem a ecologia na sobrevivência dos povos.



Foi na semana subsequente à pior catástrofe natural da história do País, na região serrana do Rio de Janeiro - a mesma em que um arrepiante tornado surgiu nos céus de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense -, que Jared Diamond falou por telefone ao Aliás. Às vésperas do lançamento no Brasil de um de seus primeiros livros, O Terceiro Chimpanzé (1992), o professor de fisiologia e geografia da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, fala das providências cruciais que o ser humano deverá tomar nos próximos anos para garantir sua existência futura. Diz que as elites políticas, seja nos EUA, na Europa, nos países pobres e nos emergentes, tendem a tomar decisões pautadas pelo retorno em curto prazo - até um ponto em que pode não haver mais retorno. Avalia que o Brasil dos combustíveis verdes tem sido "uma inspiração para o mundo", mas também um "mau exemplo" na preservação de suas florestas tropicais. E fala da corrida travada hoje, cabeça a cabeça, entre "o cavalo das boas políticas e aquele das más", que vai determinar o colapso ou a redenção das nossas próximas gerações.

O Brasil enfrentou tempestades de verão que mataram mais de 700 pessoas. Debarati Guha-Sapir, do Centro de Pesquisas sobre a Epidemiologia de Desastres da ONU, disse que o tamanho da tragédia é indesculpável, pois o País tem apenas um desastre natural para gerenciar. Como evitá-lo no futuro?

Precisamos estar preparados para um número cada vez maior de tragédias humanas relacionadas a mudanças climáticas. O clima se tornará mais variável. O úmido será mais úmido e o seco, mais seco. A Austrália, por exemplo, acaba de sair da maior seca de sua história recente e agora enfrenta o período mais úmido já registrado no país. Em Los Angeles, onde moro, recentemente tivemos o dia mais quente da história e, há algum tempo, o ano mais chuvoso e também o mais seco que a cidade já viu.

Em seus escritos, o sr. aponta a Austrália como um país com estilo de vida antagônico às suas condições naturais. Mas, em comparação com o Brasil, os australianos se saíram melhor: enfrentaram a pior enchente em 35 anos, mas contabilizaram apenas 30 mortos. Como explicar isso?

É verdade que o modo de vida dos australianos não está em harmonia com suas condições naturais. Mas o estilo de vida dos americanos e dos brasileiros tampouco. O modo de vida do mundo não está em harmonia com as condições naturais deste próprio mundo. No caso da Austrália, o país fica no continente que tem o meio ambiente mais frágil, o clima mais variável e o solo menos produtivo. Mas a Austrália é um país rico e dispõe de mais dinheiro que o Brasil para criar uma infraestrutura que gerencie tais problemas. Em Los Angeles, onde as enchentes são recorrentes, não resta um rio em seu leito natural: todos receberam canais de concreto para reduzir o risco de enchentes. A minha casa fica literalmente em cima de um córrego coberto por uma estrutura de concreto. Nos 34 anos em que vivi nessa casa, apenas duas vezes a água invadiu o porão.

Em Colapso, o sr. lista cinco razões que explicam o declínio das sociedades. Elas continuam as mesmas?

Sim. Os cinco fatores que levo em consideração ao tentar entender por que uma sociedade é mais ou menos propícia a entrar em colapso são, em primeiro lugar, o impacto do homem sobre o meio ambiente. Ou seja, pessoas precisam de recursos naturais para sobreviver, como peixe, madeira, água, e podem, mesmo que não intencionalmente, manejá-los erradamente. O resultado pode ser um suicídio ecológico. O segundo fator que levo em conta é a mudança no clima local. Atualmente, essa mudança é global, e resultado principalmente da queima de combustíveis fósseis. O terceiro fator são os inimigos que podem enfraquecer ou conquistar um país. O quarto são as aliados. A maioria dos países hoje depende de parceiros comerciais para a importação de recursos essenciais. Quando nossos aliados enfrentam problemas e não são mais capazes de fornecer recursos, isso nos enfraquece. Em 1973, a crise do petróleo afetou a economia americana, que dependia da importação do Oriente Médio de metade dos combustíveis que consumia. O último fator recai sobre a capacidade das instituições políticas e econômicas de perceber quando o país está passando por problemas, entender suas causas e criar meios para resolvê-los.

O colapso da sociedade como hoje a conhecemos é evitável ou apenas prorrogável?

É completamente evitável. Se ocorrer, será porque nós, humanos, o causamos. Não há segredo sobre quais são os problemas: a queima exagerada de combustíveis fósseis, a superexploração dos pesqueiros no mundo, a destruição das florestas, a exploração demasiada das reservas de água e o despejo de produtos tóxicos. Sabemos como proceder para resolver essas coisas. O que falta é vontade política.

O Brasil tem feito sua parte?

Nunca estive no Brasil, portanto não posso falar a partir de uma experiência de primeira mão. Mas pelo que entendo, vocês adotaram uma solução imaginativa para a questão energética, com a produção de etanol. O Brasil é uma inspiração para o resto do mundo em relação aos carros flex. Por outro lado, mesmo que o País esteja consciente dos riscos de se desmatar a maior floresta tropical do mundo, muito ainda precisa ser feito. A Amazônia é muito importante para os brasileiros, pois ela regula o clima do país. Se a destruírem, o Brasil inteiro sofrerá com as secas.

De que maneira as elites tomadoras de decisão podem encabeçar a solução dos problemas ou ser responsáveis por conduzir sociedades à autodestruição?

Uma elite que foi competente em solucionar problemas é a composta por políticos dos Países Baixos, que têm grandes dificuldades com o manejo de água, já que um terço da área desses países está abaixo do nível do mar. A Holanda investiu uma quantidade enorme de dinheiro no controle de enchentes. Uma coisa que motivou os políticos holandeses é que muitos deles vivem em casas que estão sob o nível do mar. Eles sabem que se não resolverem a coisa vão se afogar com os demais. Outra elite razoavelmente bem-sucedida é a realeza do Butão, nos Himalaias. O rei butanês disse ao seu povo que o país precisa se tornar uma democracia quer queira, quer não. Ele também anunciou que a meta do país não é aumentar o PIB, mas elevar o índice que mede a felicidade nacional. Isso é verdadeiramente uma meta maravilhosa. Nos EUA, temos políticos poderosos com uma visão curta e destrutiva. Acho que contamos com um bom presidente, mas temos uma oposição cujos objetivos no presente momento se resumem a ganhar a próxima eleição presidencial e, repetidamente, tem negado a existência da mudança climática e do aquecimento global.

De que forma o declínio de sociedades antigas pode nos servir de lição?

Algumas sociedades do passado cometeram erros decisivos, outras agiram com sabedoria e tiveram longos períodos de estabilidade. Um vizinho de vocês, o Paraguai, é um exemplo de país que cometeu um erro crucial, há 120 anos: lutar simultaneamente contra Brasil, Argentina e Uruguai. Isso resultou na morte de 80% dos homens e um terço da população. Tomando como exemplo o Paraguai, precisamos aprender a adotar metas realistas. Podemos aprender também com os países que manejam bem seus recursos, como a Suécia e a Noruega, ou tomar como mau exemplo a Somália - que desmatou suas florestas e hoje sofre com a seca. Em defesa da Somália, podemos argumentar que o país não conta com um grande número de ecologistas capacitados, ao contrário de Brasil e EUA.

O sr. estudou a ascensão e queda de sociedades no passado, mas o que se discute agora é o futuro da própria humanidade. Sua teoria é capaz de explicar os desafios do mundo globalizado?

Sim. É verdade que esta é a primeira vez na história que enfrentamos o risco de o mundo inteiro entrar em colapso. No passado, o colapso do Paraguai, por exemplo, não teve nenhum efeito na economia da Índia ou da Indonésia. Hoje, até mesmo quando um país remoto, como a Somália ou o Afeganistão, entra em colapso isso repercute ao redor do mundo. Mas, por analogia, é possível tirar conclusões semelhantes.

O geógrafo brasileiro Milton Santos (1926-2001) enfatizou aspectos socioculturais para explicar os dilemas da sociedade, enquanto seu trabalho é considerado por alguns como geodeterminista. Aspectos culturais não teriam mais influência sobre o futuro das sociedades que os naturais?

Com frequência as pessoas me perguntam se isso ou aquilo é mais importante para explicar o declínio das sociedades. Questões como essas são ruins. É o mesmo, por exemplo, que perguntar sobre as causas que levaram ao fracasso de um casamento. O que é mais importante para manter um casamento feliz? Concordar sobre sexo ou dinheiro, ou crianças, ou religião, ou sogros? Para se ter um casamento feliz é preciso estar de acordo a respeito de sexo e crianças e dinheiro e religião e sogros. O mesmo se dá no entendimento do colapso de sociedades. Fatores culturais são importantes, mas diferenças ambientais não podem ser ignoradas. Por exemplo, as regiões Sul e o Sudeste do Brasil são mais ricas que a Norte. Isso é por causa do meio ambiente, não porque as pessoas no norte sejam burras e as do sul mais inteligentes ou cultas. A explicação é que o norte do país é mais tropical e áreas tropicais tendem a ser mais pobres porque têm menos solos férteis e mais doenças. O mesmo é verdade nos EUA, onde até 50 anos atrás o sul foi sempre mais pobre que o norte. Ao redor do mundo, esse padrão é repetido: países tropicais tendem a ser mais pobres que os de zonas temperadas.

Que sociedades estão em colapso hoje?

Todas as sociedades do mundo estão em risco de colapso. Se a economia mundial colapsar isso afetará todos os países. Nós vimos o que houve dois anos atrás, quando o mercado financeiro americano quebrou, afetando todas as bolsas do mundo. Então, embora todos os países estejam em risco de colapso, alguns estão mais próximos dele do que outros - por uma maior fragilidade ambiental, porque são menos maduros política ou ecologicamente ou por qualquer outro motivo. Por exemplo, o Haiti, que retornou agora às manchetes com a volta do ditador Baby Doc, viu seu governo virtualmente colapsar e continua em grande dificuldade. O México enfrenta dificuldades gravíssimas relacionadas a problemas ecológicos, com a aridez de suas terras, e políticos, com a onda de assassinatos ligada ao tráfico de drogas. Paquistão é um exemplo óbvio, Argélia, Tunísia, que também estão no noticiário... Do outro lado, dos países com menos risco de colapso estão a Nova Zelândia, o Butão e, na América Latina, a Costa Rica. Chile também vai bem. E o Brasil tem melhores perspectivas que vizinhos como a Bolívia, claro.

Países podem se recuperar do colapso?

O colapso normalmente não é definitivo. Houve colapsos no passado que foram sucedidos por retomadas. O Império Romano caiu e, apesar disso, a Itália é hoje um país de Primeiro Mundo.

A Europa, onde o debate a as leis de proteção ambiental mais avançaram, também entrou em crise. Quando isso ocorre, há risco de retrocesso nas políticas ambientais?

É possível. Muita gente sustenta que, quando a economia está fraca, não se consegue investir como se deve no meio ambiente. O colapso econômico de fato põe em risco os avanços em sustentabilidade. Só que os problemas ambientais só são fáceis de resolver nos estágios iniciais. Nesse ponto custam menos, mas se aguardamos 20 ou 30 anos, eles se tornarão muito caros ou impossíveis de solucionar.

Nos EUA, quando o presidente Obama condicionou empréstimos às montadoras americanas ao investimento em carros mais baratos e menos poluentes, a crise não ajudou?

Tanto as crises econômicas podem ter bons efeitos para a política ambiental como fazê-la retroceder. Nos EUA, antes do crash financeiro, estava muito em moda o Hummer, um jipe de 3 toneladas, versão civil de um veículo militar utilizado no Iraque. Era caríssimo e gastava horrores em combustível. Aparentemente, suas vendas despencaram e isso é um efeito positivo da crise econômica. Ainda assim, há americanos ignorantes que ainda insistem em dizer que, uma vez que estamos em crise, podemos deixar a agenda ecológica de lado.

Há modelos econômicos melhores e piores no que diz respeito aos danos ecológicos?

No momento em que falamos, tenho que dizer que o modelo econômico americano não parece ser o mais adequado. Por outro lado, somos uma democracia, com maus políticos, mas também bons - que denunciam os problemas que põem em risco o futuro. Numa ditadura comunista, por exemplo, isso seria impossível. Gosto do sistema capitalista porque ele pressupõe competição, inclusive de ideias. Mas aprecio também o papel do Estado em interferir no capitalismo, evitando os monopólios e enfrentando grupos cujos interesses vão de encontro aos da maioria da população. Em comparação, eu diria que o modelo europeu de capitalismo, mais socializado e comprometido com o bem comum, é atualmente a alternativa menos ruim.

Alguns cientistas afirmam que não se pode dizer ao certo que o aquecimento global seja culpa da ação do homem; pode ser parte de um ciclo natural da Terra.

Sabe a palavra inglesa rubbish? Significa lixo, mas é usada em linguagem coloquial em referência a ideias ridículas. O argumento de que as mudanças climáticas que estamos presenciando hoje sejam apenas naturais é simplesmente ridículo. Tanto como aquele que nega a evolução das espécies. As evidências de que tais mudanças se devem a causas humanas são irrefutáveis. Os anos mais quentes registrados em centenas de anos se concentram nos últimos cinco que passaram. O planeta já enfrentou flutuações de temperatura no passado, mas nunca nos padrões registrados hoje. Não conheço um único cientista respeitável que afirme que as atuais mudanças de clima não se devam à ação humana. É por isso que eu digo: rubbish.

Seis anos depois do lançamento de Colapso, o sr. está mais otimista ou pessimista em relação ao futuro de nossa civilização?

Diria que me mantenho mais ou menos no mesmo nível. Tenho visto coisas ruins piorarem e boas tornarem-se melhores. O que mais me preocupa é que continuamos vendo um aumento vertiginoso do consumo no mundo, seja nos EUA, na China, na Índia ou no Brasil. O que me anima é que cada vez mais pessoas reconhecem a gravidade da situação e estão tomando iniciativas. Uma metáfora que gosto de usar é a da corrida de cavalos. Há dois deles correndo agora, o cavalo da destruição e o cavalo das boas políticas. Nestes últimos seis anos, eu diria que os dois têm corrido cada vez mais rápido, disputando cabeça a cabeça. Não sei qual vencerá a corrida, mas diria que as chances do cavalo do bem vencer são de 51%, enquanto o das más políticas tem 49%. E, se nossa destruição não é certa, nem um destino inescapável, é preciso saber que se não tomarmos medidas urgentes vamos ter grandes problemas.

A indústria do entretenimento mostra, cada vez mais, imagens do fim do mundo, prédios em ruínas, cidades abandonadas. Por que somos tão fascinados por nossa destruição?

Parte disso se deve à força romântica das imagens de civilizações passadas que entraram em colapso, como as ruínas dos maias, incas e astecas. Ou os escombros das guerras no Iraque e no Irã. E pensamos: quem construiu aqueles templos e monumentos, tinha uma cultura e arte admiráveis, podia imaginar que isso aconteceria? Por que essas civilizações entraram em colapso, sem poder evitar? E nos angustiamos: será que isso também vai acontecer conosco?

quarta-feira, janeiro 19, 2011

Voluntariado, prevenção e o custo da tragédia

A emoção é incontrolável. Imagens de crianças de olhos molhados e assustados acolhidas por pessoas que não as conheciam, mas que se apresentaram para atenuar o sofrimento. Em todo o país há organização, recolhimento e envio de donativos. Em dinheiro e em bens.

- Precisamos de papel higiênico, água, leite...

- Anotem a conta corrente que está recebendo doações.

Realmente é animador e, sim, emocionante. Pessoas que pouco têm compartilham este pouco com quem ficou sem nada. E, de alguma forma, é bom que seja assim.

Mas há uma questão que, para mim, não pode ser deixada de lado. O poder público está incumbido de zelar pela segurança da sociedade. Deveria planejar em médio e longo prazo, aplicar recursos em prevenção, fiscalizar, monitorar, orientar... Não, não é "choradeira" de alguém que apenas esperaria atitudes do governo e não cumpre a sua parte.

Todos sabem que o custo de reparação é muito maior que o de prevenção. No Japão, consideram uma relação de 7 para 1. Cada unidade monetária investida em prevenção promove a economia de 7 unidades que seriam gastas com a reconstrução. Políticas não planejadas ou efetivadas, então, têm o poder de gerar tragédias e, com licença aos sofridos parentes das vítimas -vidas não têm valor-, resultar em uma despesa imensa.

Ora, se houvesse uma única entidade chamada "poder público", ela estaria assumindo para si o risco de não prevenir adequadamente desabamentos, inundações, e mortes, muitas mortes. A despesa para recuperar cidades, plantações, vias, escolas, hospitais e também os recursos para atender desabrigados e a multidão que sobrevive nos hospitais deveria estar prevista nos orçamentos públicos.



É bonito, mas muito injusto que a população, que não criou o risco e a despesa, "ajude" os governos a suprir as vítimas de tragédias como as que aparecem a toda hora nos telejornais e em nossa memória. O governo precisa de ajuda? Ele preferiu correr o risco! São, na grande maioria, tragédias anunciadas e previstas, de causas muito bem conhecidas!!

Alguém poderia dizer que, ok, mas se o governo não comparece, que venham os voluntários e os doadores! Faz sentido. Mas que fique claro que estamos, assim, fazendo o papel do governo e, até, criando um fator de acomodação.

O governo arrecada. E muito. Como direciona estes recursos é problema de toda a sociedade. Ao invés de nos mobilizarmos para verificar -e, se for o caso, contestar!- as decisões orçamentárias dos governos, passamos nosso tempo mobilizados para atender vítimas. Parece que precisamos desta "emoção da solidariedade" para nos sentirmos úteis, participativos, bondosos...



Realmente, "prevenção" parece ser tabu e palavrão, tanto para os políticos quanto para a sociedade.

A energia reunida em momentos como o atual, de mobilização social para suprir vítimas de tragédias, poderia, também, ser canalizada para um grande movimento social pela prevenção.

quinta-feira, janeiro 13, 2011

Histórias que se repetem

Há um ano, a mesma tragédia.

Você remove um, chegam dois. Você cria uma lei, ninguém respeita, não há fiscais, não há punições. O solo, as águas, as coberturas vegetais são utilizados como uma "coisa" de ninguém.

Leia meu texto sobre os fatos de Angra dos Reis, no início de 2010. Nada de novo. Infelizmente.

Planejar cidades é arte e ciência. Antiga e necessária. O crescimento e a aglomeração populacionais têm travado qualquer criatividade.

Na foto, a absurda situação de construções de grande porte, nas encostas de Nova Friburgo. As que sobraram...



Enquanto os gestores não forem obrigados a prestar contas de suas ações preventivas -refiro-me a planejamento urbano e saúde, segurança, mobilidade...- eles continuarão a centrar-se naquilo que lhes será permitido colher no prazo de um mandato. Ações preventivas também custam e o efeito fará parte da colheita de um sucessor. Não há motivos para investir em prevenção...

Nossa geração ainda é responsável pelo que sobrará para as próximas. E, convenhamos, na maior parte do planeta só está piorando... À minha volta, também.

sábado, janeiro 08, 2011

Ligue o chuveiro e mate um índio


A matriz energética brasileira baseia-se na geração em usinas hidrelétricas, não é? Ao invés de queimar óleo ou carvão (vegetal ou mineral), deixamos, simplesmente, a água passar e... Surpresa! Energia limpa!

Não é bem assim.

Além da conhecida destruição ambiental e social (quem, com idade além dos 30 não cantou "o sertão vai virar mar"?!) dos grandes alagamentos decorrentes da construção de represas, há um exemplo, para mim chocante e altamente simbólico do estado de "senhor do mundo" a que chegou nossa pobre espécie, a humana.

Conheci os dados e uma história muito atual que se passa no interior do estado do Mato Grosso. Uma tribo -ou uma comunidade- Nhambiquara, que vive isolada e, quem diria, em equilíbrio ambiental, está ameaçada, justamente, por seus hábitos alimentares. Apenas comem peixes. E há um projeto, já há obras, ações e movimentação para a construção de mais de 15 pequenas hidrelétricas (PHE) e duas grandes usinas geradoras de energia naquela região. Não vai haver grandes alagamentos, mas... É possível que caia enormemente o estoque de peixes, afetados pela dificuldade de migração e outras características das espécies nativas.

"Ah, mas estamos resolvendo isso!", dizem. A solução, imaginem, é "tentar" fazer, a cada usina, "escadas" no rio (espécie de comportas), para permitir a migração de peixes. Fico imaginando: "por favor, senhor peixe, por aqui, pode ir entrando...".

Se não der certo (pelo menos eles vislumbram esta possibilidade), "estamos tentando mudar os hábitos alimentares dos indígenas. Quem sabe eles não passam a alimentar-se de galinhas ou carne bovina?".

!!!!!

Ok, eles já tentaram e, claro e ainda bem, não deu certo. Nada de outras carnes, apenas peixes. Um dos melhores hábitos deste povo e estariam tentando alterá-lo para adequá-los a uma nova realidade a eles imposta.

E por que tudo isso? Ora, a demanda por eletricidade é imensa. O Brasil está crescendo, não é? Mais ou menos... Há expansão econômica, mas ao mesmo tempo há imenso desperdício de energia e muito pouca energia verdadeiramente "verde", ou "social", com base na energia solar ou eólica, por exemplo.

Ligue o chuveiro e, se ele for elétrico, você estará auxiliando a retirar os peixes do cardápio daquela tribo e terminando por exterminá-la. Você pode estar participando do evitável aumento da demanda por eletricidade e, portanto, da demanda por unidades geradoras. As usinas do Mato Grosso, por exemplo...

Enquanto os custos -e preços- da energia elétrica e dos combustíveis fósseis, por exemplo e também, não refletirem a verdadeira escada de despesas complementares e corretivas decorrentes de sua utilização, os meios "limpos" serão inviáveis. Não haverá interesse efetivo por pesquisas e utilização.

domingo, janeiro 02, 2011

Mandamentos para atrair a pobreza

André Lima escreveu, Stephen Kanitz publicou e, agora, compartilho aqui, incluindo a ilustração. Vale a leitura!

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Os 10 Mandamentos Para Continuar Pobre são:

1. Fale mal dos ricos.

2. Fale mal do dinheiro.

3. Reclame das contas que você tem a pagar.

4. Seja mesquinho: Não doe nada nunca. O que é seu é seu.

5. Leia e colecione todo tipo de notícia ruim sobre a economia.

6. Atribua a sua situação econômica e a dos outros à sorte ou ao azar.

7. Fique revoltado quando souber de alguém que ganha um salário altíssimo. Quem sabe, assim o salário deles diminui e o seu cresce.

8. Pechinche o máximo, sempre: Quando for contratar alguém para realizar qualquer tipo de serviço, sinta-se feliz em conseguir fechar tudo a um preço inacreditavelmente baixo.

9. Culpe os outros pela sua situação financeira, os Bancos por exemplo.

10. Tenha vergonha de prosperar: Quando alguém elogiar algo que você tenha, diga que comprou na promoção.

Andre Lima

Tire suas próprias conclusões

Henri Matisse


Telluride Foundation
http://www.telluridefoundation.org


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